janeiro 22, 2009

Gestos que não se esquecem

Há 70 anos era uma menina a Sra que hoje é minha mãe. Orfã de pai desde tenra idade trabalhou desde pequenita para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos e a cozinhar. A família era muito pobre: tinha poucas terras e todas eram exploradas para sobreviver sem fome.

A riqueza media-se pela posse da terra. A terra em excesso dava para arrendar e do arrendamento recebiam-se alguns alqueires de milho sem trabalho.

A visita Pascal era um momento grande para os miúdos mais descarados: acompanhavam o Padre, recolhiam amêndoas nas casas ricas e saboreavam-nas com prazer.

O Padre recolhia algumas também. Quando entrava em casa da minha avó, onde não havia dinheiro para doçarias, pedia à minha mãe e irmãos para porem as mãos em concha. Depositava nestas mãos pequeninas, mas já calejadas, as amêndoas que vinha recolhendo e que eles nunca poderiam ter.

A minha mãe conta o episódio muitas vezes, comove-se sempre, escorre-lhe uma lágrima furtiva mas acaba sempre a sorrir e a lembrar este Padre.

São pequenos gestos que por vezes nos fazem grandes e inesquecíveis enquanto há memória nos que nos rodeiam.

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