outubro 27, 2009

Momentos

Na semana passada tive disponibilidade para ir buscar o pequenito à escola à hora de almoço: a tarde era livre.
Encontrei uma mãe que conheço desde pequenita mas com a qual raramente converso. Perguntei onde trabalhava. Um pouco atrapalhada disse-me que estava em casa. Tinha decidido com marido, dado ter poucos apoios familiares que lhe pudessem valer, ficar em casa.

- Levo e recolho as miúdas na Escola. Preparo as refeições, trato das roupas, levo-as ainda a outras actividades, limpo a casa e ajudo-as nos trabalhos de casa. Pouco tempo sobra e quando sobra faço uns pequenos biscates. As miúdas vão bem e eu sinto-me feliz assim.

Dei-lhe os parabéns. É sem dúvida uma decisão corajosa e só o facto de não ter os filhos educados no aviário é logo uma grande vantagem. Não tenho evidências que uma criança educada pelos pais ou familiares não se desenvolva como outra qualquer. Diria que as crianças educadas pelos familiares são mais equilibradas.

Ainda me disse:

- Fiz as contas. Teria que ganhar muito dinheiro para ser economicamente vantajoso. Pagar mulher-a-dias, ter que ir ao restaurante comprar as refeições e ainda as mensalidades do ATL são despesas grandes. Não dou valor a telemóveis sofisticados, plasmas ou carros de alta cilindrada. Não necessito do dinheiro para eles.

Gabei-lhe de novo a coragem.

- Sinto que as pessoas me olham como se fosse estagnar. É preciso também ter muita confiança no casamento!

Acredito. O Estado tem sido pária: a lei do divórcio por dá cá aquela palha impede muita mulher de fazer uma coisa que pode gostar: realizar-se como dona de casa e educadora dos próprios filhos. O inconcebível código do IRS faz o resto. Ao não dividir os rendimentos por todos os elementos do agregado rouba às famílias o que mais precisam quando mais precisam. Devolve umas migalhas na forma de Abonos de Família ou nos inacreditáveis 200Euros só usáveis ao 18º ano de vida da “criança”. Estamos a ser enganados e orientados para um modelo de organização social defeituoso, injusto, hipócrita e nada benéfico para as novas gerações.

Apareceu o meu pequenito ao longe. Acenou-me feliz.

- Sabes, papá não tinha a certeza de vires hoje.

Fomos a conversar no carro e comemos uma pizza num restaurante. Sentou-se depois ao meu lado no local de trabalho a fazer os deveres. Olhei para ele e fiquei feliz também.

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